terça-feira, 16 de outubro de 2007

A tendência é ser cool



Fala-se muito em tendências, em prever o futuro e surgem futurólogos a cada momento. Moda, tecnologias, moradias, decoração, alimentação, comportamento...nada passa despercebido pela ótica dos "especialistas do futuro". A nova moda, ou tendência, é se tornar CoolHunter ou Trendhunter. No nosso velho e bom português, eles são os Caçadores de Tendências.

Um coolhunter é um profissional que se dedica a identificar possíveis padrões futuros de comportamentos e atitudes, particularmente no que se refere a produtos de consumo. O conceito de “cool hunting” é a identificação, no presente, das sementes de movimentos que estão ganhando corpo e tomarão forma no futuro. Seria uma aproximação do marketing com a antropologia e as ciências sociais aplicadas a marcas e produtos.

Grandes empresas, cada vez mais, estão interessadas em saber para onde as coisas estão caminhando. Não é para menos: num mundo que parece girar mais rápido a cada dia, onde as transformações são constantes e barreiras são transpostas é preciso criar estratégias com os olhos no futuro.

O caçador de tendências é um profissional capaz de identificar qual das alternativas possíveis terá maior probabilidade de acontecer, permitindo que as partes interessadas atuem de forma antecipada, seja preparando-se para aproveitar uma oportunidade ou reduzir um risco, seja interferindo para alterar o cenário (se possível!).

O perfil ideal do caçador de tendências é o de uma pessoa inquieta, que tem interesse em fenômenos sociais, que goste de lidar com pessoas e formação nas áreas de antropologia, sociologia, psicologia ou design.

Estudar hábitos culturais e observar a sociedade são tarefas fundamentais das ciências humanas. Antropólogos, sociólogos, psicólogos e designers fazem isso o tempo todo e já há bastante tempo. Um cientista social pode contribuir e muito na busca de tendências, sem fazer uso de "achismos".

Cool agora é ser cientista social.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Gilberto Gil e a Indústria Cultural

O Ministério da Cultura encomendou ao IBGE uma pesquisa que permitisse perceber o peso da cultura na economia nacional. O objetivo principal, com os dados, é o de incentivar a profissionalização do processo criativo, agregando ainda a produção, distribuição, divulgação e comercialização da cultura como uma mercadoria a circular no Brasil e no mundo. Outro objetivo da pesquisa é medir o impacto da cultura na economia brasileira de uma forma mais transparente.

CinemaAqui encontramos um problema essencial: Que cultura é essa de que estamos falando e sobre a qual o IBGE coletou dados? A antropologia é a ciência que tem por objeto de estudo a cultura e por isso, vamos recorrer a ela. A antropologia evolucionista compreende que todos os seres humanos estão ligados em uma história comum de evolução; as diferenças entre os povos teriam sua justificativa no fato de cada povo estar situado em uma fase distinta de evolução, perceptível a partir de uma comparação entre eles. Já para a antropologia historicista a especificidade cultural de cada povo é fundamental, ou seja, cada povo tem a sua cultura. No entanto, falar dessa corrente hoje em dia é um debate vazio, pois as barreiras territoriais foram quebradas e tudo se mistura em uma grande salada cultural, graças à tão falada globalização.

Na primeira metade do século XX, os teóricos de Frankfurt foram os primeiros a estudar a questão da mercantilização da cultura (um dos embriões da globalização) promovida pelos Estados Unidos, através do entretenimento. Cinema, rádio, música, TV, moda e alimentação foram as primeiras munições utilizadas por essa nação que dominou culturalmente o lado ocidental do globo nesse século. Para os estudiosos alemães, a missão da cultura de levar o esclarecimento acabava sendo corrompida, e levando a uma diminuição da consciência crítica dos seres humanos, agora entregues a lazeres marcados pela excitação dos sentidos e não pelo estímulo à razão.

Voltando aos dados, a pesquisa do IBGE mostrou que o brasileiro gasta com "produtos e serviços culturais" 8% do orçamento familiar. É um quarto lugar louvável, que fica atrás apenas dos gastos com habitação, alimentação e transporte. O gasto com cultura fica à frente de gastos com vestuário e educação, por exemplo. Ao tentar mensurar na ponta do lápis esses gastos culturais, o governo brasileiro reafirma a figura da indústria cultural e a coloca como um dado estatístico dentro da política econômica.

Algumas perguntas surgem ao pensarmos nesta pesquisa do IBGE: A questão cultural não envolveria o modo como vivemos, onde moramos, como nos alimentamos, nos locomovemos, nos vestimos e como nos relacionamos com outras pessoas? O próprio hábito de consumo não poderia ser estudado através de um olhar mais antropológico?

Sendo assim, o que de real essa pesquisa tenta nos informar?